Hoje vamos falar sobre um tema extremamente importante mas que teima em raramente ser discutido – como é que eu consigo maximizar o meu rendimento na reforma, sem aumentar significativamente o risco de longevidade (acabar o dinheiro). Considerados por muito como o “Santo Graal” do planeamento financeiro, a resposta à pergunta supramencionada tem escapado ao público em geral. Pois bem, este artigo pode trazer boas notícias.
Ao longo deste artigo, vou procurar evitar as minúcias financeiras e técnicas. Este artigo tem como objetivo ser percetível pelo ‘investidor médio’. Deixo também a nota de que a única razão pela qual utilizei dados sobre o mercado americano foi porque temos muito mais informação prontamente disponível. Durante a nossa pesquisa, testámos as conclusões com dados para diferentes países e os dados foram bastante consistentes.
Importa também ressalvar que nada do que está aqui escrito deverá ser entendido como uma recomendação de investimento, e que cada investidor deverá procurar aconselhamento profissional específico à sua situação. As opiniões aqui descritas apenas refletem a minha opinião e da Abacus Wealth Management.
Como um todo, considero que os investidores reformados partilham um objetivo simples e que pode ser descrito em quatro perguntas:
- Tenho o suficiente para me reformar?
- Quanto é que necessário?
- Irá o meu rendimento acompanhar a subida do custo de vida (inflação)?
- E se os mercados caíssem, por exemplo, 30% amanhã? Quanto é que isso me afetaria?
Este artigo irá focar-se na pergunta “Qual é o montante máximo que eu consigo retirar prudentemente do meu fundo de pensão todos os anos? Ao mesmo tempo que procurará clarificar aquelas perguntas individuais.
A primeira tentativa formal de responder a esta pergunta é atribuída a William Bengen, CFP©, e ficou conhecida como “A regra dos 4%”. Antes de Bengen (1994), as taxas de juro encontravam-se a significativamente mais altas e, como consequência, a “estratégia de reforma tradicional” era investir em obrigações e viver do juro… Infelizmente desses bons tempos apenas restam as saudades.
Fonte: Dados da Bloomberg, cálculos da Abacus Wealth Management
Bengen fez um estudo exaustivo sobre a performance de diferentes ativos, com especial enfoque
nas quedas dos mercados durante as décadas 1930 e 1970. Ele concluiu que, mesmo nos piores cenários, não houve nenhum caso histórico em que retirar 4% ao ano de um portfólio diversificado exaustasse um fundo em menos de 33 anos (em linha com a esperança média de vida de um reformado na altura). Em português simples: se eu tivesse um fundo de pensões com €250,000 e investisse num portfólio de risco médio (60% ações, 40% obrigações), Bengen mostrou que eu posso prudentemente tirar €10,000 ao ano, e aumentar em linha com a taxa de inflação (3.5% sensivelmente) todos os anos. Após 25 anos, este rendimento ajustado à inflação seria equivalente a €23,632.45 por ano.
Vamos pensar sobre isto por um momento: nós sabemos que 1) os mercados financeiros são voláteis, 2) investir envolve risco, 3) 4% é a taxa prudente a que eu posso obter rendimento na reforma, mas o que eu quero mesmo saber é qual é a taxa MÁXIMA a que posso retirar dinheiro (“taxa de rendimento” daqui em diante), sem arriscar perder a casa. Será que 4% me compensa adequadamente pelo risco que corro quando invisto?
Felizmente para nós, não somos os únicos a ponderar estas questões. Em 2004 e 2006, Jonathan Guyton, CFP©, publicou dois artigos a argumentar que ao optar por tirar dinheiro a uma taxa fixa durante bons e maus momentos nos mercados, o reformado médio iria efetivamente estar a “deixar dinheiro na mesa”. Com o tempo, o reformado médio irá relembrar a sua reforma e ficar frustrado ao contemplar quão melhor estilo de vida que poderia ter tido, se tivesse decidido gastar mais dinheiro.
Ao invés de utilizar uma taxa fixa de rendimento, Guyton argumentou a favor de uma gestão de taxa de rendimento dinâmica e suportada pelas seguintes regras: aumentar o rendimento quando os mercados têm bons desempenhos, e proteger o fundo de pensões ao diminuir a taxa de rendimento durante maus períodos do mercado. Esta abordagem é por sua vez alicerçada em estudos que demonstram que os reformados, e não só, tendem a diminuir o seu consumo durante períodos económicos menos favoráveis (um recente exemplo foi o da pandemia COVID-19, apesar de haverem outras fatores na diminuição do consumo). Como tal, a ‘dor’ de ter de diminuir o rendimento do fundo de pensões seria suportável. Estudos compilados por Guyton e outros autores estão na base de como a Abacus Wealth Management aconselha os seus clientes. Segue-se uma tabela que sumariza os resultados dos estudos de Guyton:
Fonte: “Decision Rules and Maximum Initial Withdrawal Rates”, Guyton & Klinger, 2006
Utilizemos um exemplo: a Maria tem um fundo de pensões avaliado em €650,000 e pretende tirar um rendimento anual de €26,000 (4% do fundo). Se a Maria viver durante 30 anos, ela irá auferir um rendimento acumulado real (sem contar com subidas indexadas à inflação) de €780,000 durante a sua reforma. Então e se a Maria pudesse ter um rendimento anual de €35,750 (5.5% do fundo)? Durante os mesmos 30 anos, a Maria iria auferir um rendimento acumulado real de €1,072,500 – uns risonhos €292,500 (acréscimo de 38%!) a mais. Quando se trabalha com um financial advisor competente, paga-se mais mas também se recebe mais.
O aspeto que eu considero ser mais encorajante deste conhecimento, é que conseguimos convertê-lo para responder à perpétua pergunta “Será que tenho o suficiente para me reformar/Quando é que me posso reformar confortavelmente?”. Se eu quiser um rendimento anual de €30,000, e souber que posso contar com uma taxa de rendimento de 5% do fundo ao ano, irei precisar de acumular um fundo de €30,000/5% = €600,000. Por outro lado, se eu apenas puder contar com uma taxa de rendimento de 4% do fundo ao ano, irei precisar de acumular um fundo de €30,000/4% = €750,000. Este método simples afasta quaisquer preocupações sobre a nossa bola de cristal estár afinada ou não.
Se o leitor considerar o conceito de “aumentar ou diminuir o rendimento com base em regras dinâmicas” complexo, nós na Abacus Wealth Management procurámos criar uma maneira simples e percetivel de entender o conceito. Intitulámos o conjunto de regras que permitem aumentar o rendimento de ‘Upper Guardrail’ – corrimão superior- e o conjunto de regras que sugerem uma redução do rendimento ‘Lower Guardrail’ – corrimão inferior:
Até agora tudo muito polido e bonito mas o leitor já deve estar a questionar que falta mencionar um dos pontos essenciais à análise anterior: o impacto dos custos. Para um investidor reformado, pouco importa saber quanto é que a sua carteira de investimentos está a crescer ou descer cada ano. Importa sim quanto é que a sua conta está a subir ou descer, após todos os custos e comissões serem considerados (a performance líquida). Nós pretendemos ser totalmente transparentes e justos com os nossos custos, e utilizamos um ‘teto máximo’ de 1.5% do fundo ao ano – isto inclui TODOS os custos com investimentos, plataforma e acompanhamento profissional. Para incluirmos o impacto dos custos na nossa análise, basta adicioná-los à taxa de rendimento anual. Exemplo: uma taxa de rendimento líquida de 4% é equivalente a uma taxa de 5.5% bruta (antes de custos e comissões). Da pesquisa que fizemos no mercado, o ‘típico’ fundo de investimento recomendado por empresas concorrentes custa mais de 1.5% ao ano por si só. O que quer dizer que a taxa de custo total cobrada ao cliente, quando incluímos aconselhamento, plataforma, etc, é próxima de 2.5% - 3% ao ano. Neste artigo já abordámos a diferença abismal que 1.5% ao ano pode fazer em períodos temporais longos.
Se gostou do conteúdo deste artigo e a sua estratégia de rendimento-reforma é alicerçada em ‘esperança’ e na pensão do estado, mais do que em dados históricos, estudos académicos e análise de múltiplos cenários, entre em contato connosco e marque uma primeira reunião grátis com um consultor da Abacus Wealth Management.
Fonte: Bloomber Data, Abacus Wealth Management
João Feliciano Martins
Wealth Manager
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